OK, here is my sometime hero, Arnaldo Jabor, adding an interesting angle to the historical record:
"Por que jamais gostei da Yoko Ono: a arte da viúva de Lennon tem gosto de nada", Arnaldo Jabor, O Globo, 13 outubro 2007, Segundo Caderno, p. 10.
Conheci Yoko Ono ao mesmo tempo que John Lennon. Ou quase. Eu estava em Londres em 1967, na semana em que foi lançado o álbum Sargent Pepper, que coloria todas as vitrines de King´s Road, quando ouvi falar da Yoko. Lennon a conheceu na mesma época: "fatal encounter". Me disseram: "Tem uma japonesa ai interessante, que vai fazer um "happening" num teatro que vale a pena ver".
Lá fui eu, movido pela "febre do novo" dos anos 60. Yoko mostrou um filme que ela trouxe também para sua turnê em São Paulo. Chamava-se "Bottom" e era um documentário até engraçado, pois ela entrevistava pessoas, apenas mostrando suas bundas, enquando andavam no mesmo lugar. As bundas se moviam e, em "off", ouvíamos suas opiniões sobre a vida. Era legal, pois algumas bundas combinavam muito com as opiniões emitidas. A bunda é também a cara do dono. Talvez seja até mais verdadeira, pois a cara dá para mudar, repuxar, maquiar, mas a bunda fica ali, denunciando tudo, se bem que hoje, com as plásticas, as bundas ficaram mais enganosas. Depois desse filminho simpático começou no teatro um ritual "hippie nipônico" que começou a me irritar. A Yoko subiu ao palco e com um autoritarismo "soft", convenceu a platéia se dar as mãos e a contemplar o "prana", a energia vital que "estava em tudo". Ela era pequenininha, mas visivelmente mandona. Sua mansidão humilde de japonesa, era visivelmente fabricada, ocultando uma grande ambiciosa. Era até bonitinha, de rosto e seios, (bundinha caída...) mas, tinha charme. De repente, lá estava eu de mãos dadas com um inglês desconhecido de um lado e uma senhora gorda de bata colorida do outro, me concentrando minha mente no "universo da Yoko".
O lado babaca dos anos 60 ali se manifestava: uma onipotência holística, mística, um amor geral proclamado a "tudo", o exercício de um poder que não existia. Tudo aquilo era uma bobagem, um evento irrisório, diante da maravilhosa força dos Beatles lá fora, estourando naquele álbum obra-prima, mudando o mundo real, dentro do mercado, dentro da vida concreta, longe das babaquices semi-religiosas que também rolavam na "swinging London". Foi aí que comecei a não gostar de Yoko. Ela não tinha feito nada contra mim, coitada, nem contra ninguem, ainda, mas, como se diz no Rio, gratuitamente, "eu não fui com os cornos dela..."
Aí, passou um tempo e um dia eu vejo que a Yoko Ono estava namorando o John Lennon. Tremi. Senti que mudava uma época. Foi o mesmo tremor, quando soube do "blow job" catastrofico da Monica Lewinski no Clinton, que mudou o Ocidente, o mesmo tremor, quando o Sharon botou o chapéu e invadiu a Esplanada das Mesquitas, a beira do acordo de paz, o mesmo que sinto agora vendo o Paquistão preparar o terrorismo nuclear com suas 30 mil madrassas e o Osama ali nas bocas. (Claro que a escala sísmica é variada, mas o tremor é o mesmo é a certeza do erro sendo cometido).
Nesses dourados anos do desbunde , conviviam lados construtivos e auto-destrutivos. Quando soube do namoro da japonesa filha de banqueiro e radical, eu senti que Yoko tinha entrado para acabar com os Beatles, que certamente ela considerava "caretas". Não por acaso, logo depois, o Lennon declarou que o "sonho tinha acabado", em pleno sucesso do grupo. Imaginem se Yoko teria peito de ir procurar os Rolling Stones com esse papo; o Keith Richards botava ela no olho da rua a pontapés. Mas os Beatles, mais romanticos, mais bobos, deixaram entrar em a vibora que os destruiria. Fálica, castradora.
Nesta época, a humanidade era dividida pelos jovens em: caretas e "muito loucos". Beatles e Rolling Stones. No entanto, ambos eram importantíssimos, pois furavam a parede boçal da cultura de massas, levando adiante uma arte superior.
Mas, na década de 70 (que já se prenunciava nesse ano), surgiu uma terceira força, árida, muda, dolorosa, uma melancólica e ácida recusa à vida criativa, uma fuga do mercado e da criação que chamaram de "conceitual". A arte conceitual era uma sopa-no-mel para oportunistas e gente sem talento. Para esses teóricos, um conceito, uma ideia (ou "a ideia do que eles achavam que seria uma ideia") podia substituir a obra. Tudo era banido: o sucesso, a vivencia estética, o prazer, o mercado, tudo era um dogmatismo simplista da revolução critica que Duchamp tinha feito em 1920. Yoko era um agente da máfia conceitual. Ai começou a corrosão dos Beatles. Em pouco tempo,o grupo estava esfacelado, com o Lennon perguntando como o Paul McCartney podia dormir de noite ("how can you sleep at night?"), como se o grande Paul fosse um alienado, um direitista.
Ai, vi aquela foto otima da Annie Leibowitz, onde o Lennon se agarra como um bezerro nu no corpo de Yoko. Claro que,mesmo dominado pela baixinha, o grande Lennon continuou fazendo coisas ótimas, desde "Imagine" até o "Double Fantasy", seu ultimo disco antes do assassinato.
Mas a revolução "yokoniana" em que consistiu? Que fez ela alem da dissolução dos Beatles? Que apresentou ela ao mundo, se tudo foi feito por ele? Yoko nunca fez nada de relevante, a não ser dominar a alma do cara. Ela inventou vagos eventos, como ficar na cama diante da imprensa, pálidas demonstrações de desgosto pelo mal-do-mundo ( ela declarou anteontem aqui que "as guerras são desnecessárias e poderiam ser resolvidas por advogados..."); pode? E o mais interessante no picareta conceitual como ela, é a ideia de que a própria falta de talento já é um talento, que a bobagem irrelevante já é uma talentosa denúncia da própria arte como coisa "menor".
O que teria havido se os Beatles tivessem existido juntos mais tempo? A esperança teria sido mais longa? O romantismo psicodelico teria derivado para a caretice dos "Saturday Night Fevers" com tanta facilidade nos anos 70?
Por isso, nunca gostei de Yoko. E, ontem, li no jornal uma frase otima de Daniela Thomas, depois da performance da viúva em SP: "Depois de ver tudo aquilo, entendi porque eu queria matar a Yoko na infância.."
Eu também.
If only Arnaldo had met Yoko in Rio and had succeeded in persuading her to accompany him to that derelict coach in his left-wing hideout.
Here is a reaction to Arnaldo's column, written by Sergio Leo, a journalist in Brasília (for link, click here):
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