Senador do PDT, cuja marca principal era a defesa da ética na política, teve um enfarte em casa, em Manaus
André Alves e Ana Paula Scinocca
Vítima de um enfarte fulminante, o senador Jefferson Péres (PDT-AM), reconhecido pela permanente briga no Congresso em defesa da ética, morreu ontem, por volta das 6 horas, em sua casa, no bairro Adrianópolis, em Manaus. Aos 76 anos, o parlamentar tinha atuação dura, relatou casos rumorosos - como a cassação do ex-senador Luiz Estevão e um processo contra o ex-presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL) - e era forte crítico do governo Lula, apesar de o seu partido integrar a base aliada. Sua morte foi lamentada no meio político, com manifestações das principais expressões nacionais.A mulher do senador, a juíza aposentada Marlídice de Souza Carpinteiro Péres, de 60 anos, disse que o senador acordou no horário habitual, por volta das 5h30, tomou café e desceu as escadas de sua casa, de dois andares, para apagar as luzes do jardim. Não fez a costumeira caminhada ao redor da piscina, exercício que praticava todas as manhãs. Ao retornar para o quarto, sentou-se na cama e reclamou de forte dor no peito. “Estou passando mal”, disse.
Marlídice chamou o médico da família, César Cortez, mas não houve tempo para prestar socorro. “Ele era hipertenso arterial. Teve enfarte agudo fulminante, que causa parada cardíaca e respiratória”, explicou o médico. A mulher e dois filhos do senador, Ronald e Roger, estavam em casa. O terceiro filho, Rômulo, estava nos Estados Unidos, a passeio, e tentava ontem retornar a Manaus.
Líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio Neto (AM) acompanhou Péres em sua última viagem de Brasília para Manaus. “Ele aparentava estar muito bem”, contou o tucano. Durante o vôo, conversaram sobre política, filmes e literatura. Eles desembarcaram na capital amazonense às 13h30 de quinta-feira. Naquela tarde, Péres acessou sites de notícias, colocou em dia artigos que publicava em jornais e organizou a agenda. “Foi um nome que o Amazonas doou para o País. Uma referência de ética e de moralidade”, lamentou Virgílio, ao saber da morte.
O velório movimentou ontem o Centro Cultural Palácio Rio Negro, antiga sede do governo do Amazonas. O enterro será hoje, às 16 horas, no cemitério São João Batista, no bairro Adrianópolis, onde Péres morava. O governo estadual decretou luto por três dias. No Senado, a bandeira ficará a meio mastro por esse mesmo período.
REPERCUSSÃO
Ultimamente, Péres defendia abertamente uma ampla investigação sobre as suspeitas envolvendo o deputado Paulinho Pereira da Silva (SP), o Paulinho da Força, filiado ao seu partido. Da mesma forma, criticava o governo Lula, embora seu partido componha a base aliada no Congresso.
A notícia de sua morte se espalhou e levou ao Congresso, em plena sexta-feira pós-feriado, todos os senadores que estavam em Brasília. O presidente do Congresso, Garibaldi Alves (PMDB-RN), foi imediatamente à Casa, abriu a sessão consternado e referiu-se ao pedetista como um “um senador franzino e pequenino que se agigantava” na defesa da democracia.
“Perdemos um grande senador, grande homem público, um homem dedicado à defesa da democracia, um dos sustentáculos da coluna vertebral do Senado”, discursou Garibaldi. “Foi-se um guerreiro de luta e coerência. É uma perda muito difícil”, disse a senadora petista Serys Slhessarenko (MT).
“Essa morte, de chofre, nos deixa a todos consternados. Péres foi um companheiro altivo, independente, que sempre mereceu o nosso respeito, até quando discordávamos dele. Era um homem íntegro, probo e um baixinho que provou que tamanho não é documento”, afirmou o senador Geraldo Mesquita (PMDB-AC).
Também senador pelo Amazonas, João Pedro (PT) era um dos mais emocionados. “Fui vereador com ele nos dois mandatos em Manaus e também fomos eleitos senadores juntos. O Amazonas perde muito pelo homem público que era o senador Jefferson Peres, referência nacional. Senador franco, duro, exigente, mas profundamente ético”, afirmou.
Médico, o senador Mão Santa (PMDB-PI) disse que o colega não tinha “perfil” para ser vítima de enfarte. Funcionários do gabinete de Péres receberam centenas de telefonemas de solidariedade. “A saúde estava em dia”, afirmou um assessor.
REPERCUSSÃO
José Serra (PSDB), Governador de São Paulo
Ele era um conselheiro. Pessoalmente, eu perco um amigo e alguém que sempre me incentivou na luta política. Jefferson foi dos nossos melhores senadores e melhores integrantes do Congresso. Era um homem firme, sereno, de convicções democráticas profundas, muito bem preparado.
José Múcio Monteiro, Ministro das Relações Institucionais
A democracia amanhece empobrecida. Jefferson Péres foi um homem que pautou a sua vida pelos princípios da ética e da moralidade.
Nelson Jobim, Ministro da Defesa
Era um homem importante, um grande amigo. Desempenhava um papel dentro do Senado que tinha uma funcionalidade muito forte. É uma grande perda.
Carlos Lupi, Ministro do Trabalho e ex-presidente do PDT
Travou batalhas inesquecíveis, colocando sempre em primeiro plano seu amor e sua ferrenha defesa aos princípios básicos da ética política.
Marco Aurélio Garcia, Assessor especial da Presidência
Em alguns momentos tivemos divergências sobre política externa, mas,mesmo que eu discordasse de alguns pontos de vista dele, obviamente que ele queria o melhor para o Brasil.
Gilmar Mendes, Presidente do STF
Era um homem extremamente correto, probo e dedicado às causas e interesses do País.
Aécio Neves (PSDB), Governador de Minas Gerais
Jefferson Péres entra para a história brasileira como um dos homens que honraram a atuação como parlamentar levando às últimas conseqüências a honrosa tarefa de representar com altivez seus conterrâneos.
Geraldo Alckmin (PSDB), Ex-governador de São Paulo
Ao longo de sua vida, Jefferson Péres não apenas defendeu os legítimos interesses da população do Amazonas, mas exerceu a política com ética e honra, tornando-se, assim, uma referência para o Senado, o Congresso e o Brasil.
Paulo Pereira da Silva (SP), Deputado e presidente nacional do PDT
Ele dedicou sua vida em prol do bem público, era um homem íntegro e referência ética no Congresso.
Garibaldi Alves, Presidente do Senado
Perdemos um grande senador, um grande homem público, um homem dedicado à defesa da democracia e que era um dos sustentáculos da coluna vertebral do Senado. Era um grande peregrino em defesa da ética.
Cristovam Buarque, Senador pelo PDT-DF
Com o falecimento do senador Jefferson Péres morre também a moral da política brasileira.
Serys Slhessarenko, Senadora pelo PT-MT
Foi-se um guerreiro de luta e coerência. Para nós, é uma perda muito grande, muito difícil.
Mozart Valadares Pires, Presidente da AMB
Símbolo da independência política, o senador lutou pela democracia durante toda a sua carreira com uma postura ética irrepreensível.
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