terça-feira, 24 de julho de 2007

Arnaldo Jabor, Telling It Like It Is!

A síndrome da incompetência generalizada -- Não há remédios para a doença administrativa que assola o país
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A sordidez do que acontece no Brasil é tal que até criticar o governo só serve para legitimá-lo. Este governo não merece nem uma critica à "luz da razão". Tem de ser analisado como um exame de patologia clínica. Estamos sendo infectados por uma doença histórica. Chama-se a "síndrome da incompetência generalizada". Ou então, "falência múltipla dos órgãos públicos".


Esse doença se espalha a partir do centro do Executivo, do topo da pirâmide de poder. Lula foi a bandeira de bolchevistas e intelectuais durente décadas. Era a esperança do velho populismo e dava um rosto operário concreto aos ideólogos. Controlado pelos comandados de Dirceu, acabou eleito pela habilidade realista de um publicitário. Com a intervenção salvadora de Jefferson, Lula criou sua própria doutrina, que hoje se derrama sobre todos os aparelhos de Estado e se infiltra, pelas alianças, nos outros poderes. As características dessa doença que infecta o país oriundas de uma vasta cepa de germes históricos e ideológicos. Há uma cepa herdada (resistente a antibióticos) de um autoritarismo com ecos stalinistas, que se cruzou com o germe do sindicalismo oportunista, com o estafilococos do populismo pós-getulista, formando um novo tipo de micróbio que, com a baixa imunidade da democracia representativa, se espalha de forma profusa e letal. Essa doença grave fica muitas vezes dissimulada pela figura de Lula, com seu carisma de símbolo, assim como certas febres podem levar a alucinações enganadoras.


Lula não ama o povo. Ao contrário, quer ser amado por ele. A recente vaia que o "mago-ou", feriu-o por ele se sentir uma espécie de pioneiro de ascensão social, que ele diz desejar para todos. Aliás, a crença de que o homem "de esquerda" pensa no "bem" real do povo é mais uma falácia herdada da tradição. Stalin amava o povo? O povo é visto pelos totalitários como uma "massa" (nome usado por eles) a ser moldada como uma máquina humana se reproduzindo sempre, obediente a líderes. O "povo" não é visto como seres para brilhar ou florescer, mas para ser controlados. O recente "top, top" do velho Marcos Aurélio é a metafora simétrica da vaia: "Vão ter de nos engolir!" -- a opinião pública e a impresa, o inimigo maior...


Outra característica dessa anomalia é sua espantosa incapacidade administrativa. A ideia de "competência" é vista com desconfiança, inclusive teoricamente, como já foi relatado por intelectuais como Marilena Chauí, porque a competência técnica pode "encobrir um desvia neoliberal, de direita". "Administrar" é visto como ato menor, até meio reacionário, pois administrar é manter, preservar, coisa de capitalistas. A incompetência paralítica deste governo é uma mistura esquisita de restolhos de slogans socialistas com uma adesão custosa e desconfiada ao nosso subcapitalismo, a não ser nas regras "macro" que FH deixou, em que Lula, por instinto, não mexe.


Essa ambigüidade paralisa processos e projetos. Nosso Estado quebrado não pode fazer desenvolvimentismo, e a desconfiança congênita na iniciativa privada impede o crescimento. Só respeitam os bancos e os grotões eleitorais. Isso, misturado a uma vaga idéia de "futuro" que habita a tosca cabeça dos sindicalistas oportunistas e velhos bolchevos, cria uma desvalorização do "aqui e agora", como se o "presente" fosse algo desprezível. Assim, tudo fica parado no ar, nada sai do papel. As promessas e os anúncios bastam, a realização é supérflua.


Sem falar na infecção do baixo aliancismo -- o que faz a roubalheira ser vista quase como um mal necessário e inevitável ("Oba!"), o que permite a predação da República com a consciência limpa.


Também a invasão de cargos técnicos por hordas de sindicalistas sem preparo, ignorantes gera a infecção da burocracia labiríntica. A confusão mental e a obsessão paranóica da "conspiração" criam mecanismos de defesa que impedem qualquer eficiência, em nome de uma vigilância contra os inimigos (nós). Assim, nada anda com o passo eficaz do capitalismo. Em dez meses de caos aéreo, com 354 mortos, só agora se tocaram para o óbvio de medidas anunciadas e que talvez nem sejam cumpridas. A isso, claro, some-se o caráter preguiçoso e deslumbrado do Lula, que se declina por todos os escalões do Estado, como uma degeneração de qualquer fé ou iniciativa. Se o comandante berra "Dane-se!", todos depõem suas armas. Além de não saber o que fazer, Lula não tem saco para nada. Sua atitude de se colocar acima da política cotidiana desqualifica a própria política, como sendo coisa menor, o que é uma sopa no mel para corruptos e vagabundos.


Por outro lado, como a economia mundial é favorável, temos a impressão de saúde, e os danos ficam ocultos e só ficarão claros com a próxima crise. Em vez de ser usado, a economia mundial está sendo abusada, como uma droga entorpecente. Pela ausência de projetos, resta aos donos atuais do poder manter comprado o apoio das "massas", com BolsasFamílias e aumentar gastos públicos em contratações e falsas iniciativas. Tudo que tinha de ser reformado não o será, pois "reforma" repugna revolucionários.


É isso aí. Tudo que o governo anterior introduziu e que poderia nos fazer avançar foi paralisado. Estamos diante de um grave retrocesso histórico. A tragédia de Congonhas é uma metáfora sinistra de nosso momento: o avião estava muito veloz para frear e muito lento para arremeter. Como o Brasil. Não só nada avança, como o que antes funcionava está quebrando. Alem disso, os germes cruzados com muitas cepas, fortalecidos por décadas de superstições populistas, são muito resistentes. Não há antibiótico conhecido contra esses micróbios. Nenhum, muito menos o PSDB, que morreu, contaminado por si mesmo.




Here, a link to more of his work: http://www.paralerepensar.com.br/a_jabor.htm

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