quarta-feira, 4 de julho de 2007

Gente! Por favor! Wake up!!!

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OK, I am going to steal, illegally, again, the words of Arnaldo Jabor from page 10 of the Segundo Caderno of O Globo, edition of 3 July 2007.

Lula pensa: "Eu justifico os meios!"

O apoio do Executivo ao Senado ameaça a democracia

...No presidencialismo de coalizão, em geral, o presidente fica na mão do Congresso; agora, o Senado ficou na mão de Lula e contou com seu apoio. Lula acaba de fortalecer o pior lado do Congresso, no apoio que deu a Renan Calheiros, que ameaaçava não votar nada do governo. O PMDB está cobrando agora o apoio que deu ao PT na época do esgoto da "mensalão". Ou seja: escrotidão com escrotidão se paga.
...E o fascinante nisso tude é que Lula se "benefícia" dessa lama do Congresso.
...Apoiado por 65% da população mal informada, Lula exerce um espécie de "despotismo não escalrecido", navegando na política econômica que herdou do FHC (e que ele não é bobo de mexer) e na sorte imensa de governar com o mercado mundial com imensa liqüidez. Ele quer curtir seu mandato, com calma, luxo e volúpia. Aceita a tutela do PMDB e usa uma linguagem com resquícios de esquerda; exala tranqüilidade britânica, saboreando as delícias de seu mandato.
...Lula é responsável, sim, pelo caos do Senado. Sua forma displicente de governar, de não fazer marola, contamina a política toda. Na práctica, o país está sendo governado por um "bonapartismo" cordial, de vaselina, em que um símbolo operário mantém seu charme de marketing sobre a vida social, anulando a vida política.
..."Os políticos são todos uns ladrões" -- pensa o povo -- "mas nosso Lula está acima da política..."
...Para além do oportunismo de Lula e do PT, há também neste governo o mesmo rationale que explicava a distribuição de dinheiro do mensalão. Há um gélido desprezo de homens "superiores" do PT e Lula, em seu narcisismo sindicalista, pela "ética burguesa", o que permite, de cara limpa, numa boa, beijar a mão do Barbalho ou dar força para Renan. "Estamos acima disso tudo que está aí... pois miramos uma 'coisa' maior!" Aquilo que já foi o slogan utópico dos comunas virou o sujo lema da permissividade atual, pois, como não têm utopia alguma, a não ser seus cem mil cargos no Estado, usam-no para manter limpas suas "boas consciências" irresponsáveis que estimulam a corrupção. Assim como os comunas acham que os fins justificam os meios, Lula pensa: "Eu justifico os meios!"
...Lula descobriu que não precisa governar. Basta pairar no "Ibope". Lula recusa qualquer reforma política ou econômica. Em quase cinco anos, ele não fez absolutamente nada, a não ser mamar na herança bendita do FH (que está sendo dilapidada com petistas invadindo o Estado como uma porcada magra no batatal) e prometer planos de crescimento, como o PAC, que, pelo jeito, não sairá do papel, dadas a lentidão patológica da administração e a falta de garra.
...Parafraseando Dora Kramer: quando acabar o mandato, Lula será louvado pelas coisas boas que não fez (e sim FH) e não será criticado pelas péssimas coisas que fez (explosão de gastos, imprevisão, falta de projetos etc...) que vão explodir no colo do sucessor.
...Lula quer o êxtase da aceitação total e vale tudo para isso. Ele substituiu o atraso tradicional por um atraso travestido de novo, um ensopadinho de slogans populistas com um estatismo inchado e falido. Bela vitória do atraso nacional, apoiado por massas que não entendem nada. Lula desmoralizou os escândalos, vulgarizou as alianças.
...Que fazer quando Lula apóia o Renan e põe a mão em sua cabeça, enquanto verbera contra a PF e o Ministério Público? Quando o Collor caiu, ainda existia o escândalo. Havia ainda os "homens de bem da República", havia Barbosa Lima Sobrinho, gente assim, ainda havia o susto, a indignação. E agora? Como vamos protestar? Com as cartas dos leitores? Por um idiota solitário como eu e outros journalistas "fascistas", como nos apelidou o Renan? Está havendo uma espécie de "chavismo" molenga e disfarçado de Lula que estimula essa mixórdia e lucra com ela.
...Há um caos se armando por aí. Não há instrumentos que a opinião pública possa usar para pôr fim, pôr "cobro", como se dizia, a esta espantosa desmoralização da democracia. Alguma coisa de muito grave está se gestando, uma doença, uma terrível crise no ventre do país. Um autoritarismo virá? De quem? Os militares foram na época motivados pela Guerra Fria, pelo medo de comunismo. Um autoritarismo civil? Com quem? Onde está esse homem? Uma onde plebiscitária irrefreável? Mas movida por que maremoto de opiniões? O grave é que os políticos não estão mais se escudando e protegendo apenas por saberem da impunidade que o Poder Judiciário lhes garante. Não. Eles estão adorando nos anestesiar para sempre, eles estão percebendo que, além da impunidade, há o tédio, a banalização do horror, eles descobrem maravilhados a segurança suprema: a permissividade concedida pelo povo. E apoiada pelo Lula. E nós estamos aprendendo a querer pouco.
...A "Veja" de anteontem nomeou os cinco mosqueteiros da ética: Gabeira, Simon, Jarbas Vasconcelos, Demóstenes e Jefferson Peres.
...Deve haver mais, no Congresso. Temos de fazer a lista das pessoas que podem ajudar em um mutirão contra este horror. Dentro e fora do Congresso. Quem? Hoje temos um país deprimido e impotente para reagir, assistindo a um festival horrendo de mentiras (quem viu o show psicótico-melodramático de Roriz na TV?), onde nada de bom acontece nem consola; em suma, um país perfeito para a crise que virá, com o primeiro retrocesso que houver na economia mundial.
...Só Lula e o poder que 65% do povo lhe dão poderiam fazer alguma coisa. Mas, ele não quer aporrinhação. Os crimes do Congresso ficarão sob seu beneplácito de sua realpolitik, nome de guerra para sua preguiça e seu desinteresse.
...Lula não lutará contra nada. A reforma política não virá, reforma alguma virá. O fim da Comissão de Orçamento não virá. As emendas individuais ou de guarda-chuva não acabarão jamais, o Judiciário continuará como está, jamais condenando alguém. Ele não lutará por sua mudança, razão maior de nossas roubalheiras endêmicas. Nada virá, só o imprevisível e, como sempre, tarde demais.

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